Natural de Lisboa, Ana Lua Caiano - cantora, compositora, letrista e produtora - começou a compor as seis músicas que viriam a fazer parte do seu primeiro EP, Cheguei Tarde a Ontem, em 2020, em plena pandemia. Foi durante o isolamento que ela se viu com um sintetizador, um tambor tradicional e diversos objetos do dia a dia, como copos, chaves, cadeiras, etc. Em seu quarto, criou, compôs e gravou as músicas que marcariam a sua estreia solo e que a levaria aos palcos no formato one woman show.
As faixas transportam a música tradicional portuguesa, em especial seus elementos como coros, harmonias e cânones, para o mundo moderno, com pitadas de música eletrônica, sintetizadores e, ainda, o tambor. São seis faixas que abordam temas como amores tóxicos, pressa, medo de morrer, poder, entre outros.
O meu projeto surgiu durante a quarentena e, portanto, numa altura em que só conseguia criar música sozinha. Foi uma altura muito estranha em que todos fomos obrigados a parar e as nossas vidas ficaram de uma certa forma em suspenso. Foi na criação musical que encontrei um refúgio para ultrapassar os difíceis períodos da pandemia. Descreveria a minha música como sendo uma tentativa de trazer a tradição musical portuguesa para o mundo moderno, tentando juntar o antigo ao atual.
Um dos primeiros testes de suas músicas ao vivo — tocando sozinha — aconteceu nas SDB Sessions, realizadas durante a pandemia em 2020. Para o projeto, Ana apresentou Olha Maria (que está no EP), Mão na Mão e Os Meus Sapatos Não Tocam Nos Teus.
A recepção ao EP Cheguei Tarde A Ontem foi repleta de boas críticas, que reconheceram na música de Ana Lua uma "lufada de ar na música portuguesa". As letras são repletas de ironias e sarcasmo e, além do uso de sintetizadores, o tambor, instrumento tradicional da música portuguesa, é outra marca de seu trabalho.
O meu primeiro instrumento foi o piano. Comecei a estudar por volta dos 5 anos e acabei por fazer o 5º grau em piano clássico. Mas, para além do piano, sempre adorei experimentar outros instrumentos musicais, principalmente instrumentos de percussão. O tambor apareceu devido ao meu interesse pela música tradicional portuguesa – acabei por comprar um tambor tradicional e comecei a usá-lo como uma ferramenta para estimular a criação musical e, por consequência, começou também a ser incorporado nas gravações das minhas músicas - ALC
Ana começou a compor e a participar de projetos musicais ainda adolescente, aos 16 anos. Formou-se em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes em Lisboa, mas sempre estudando música em paralelo (piano clássico, voz e piano jazz).
No seu radar de referências estão nomes que trabalham com a tradição musical como Zeca Afonso, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Chico Buarque, Caetano Veloso, Cesária Évora e Mercedes Sosa; música experimental como Portishead, Laurie Anderson, Bjork e Silver Apples; e nomes mais atuais como Tim Bernardes, B Fachada, Panda Bear, Manel Cruz e Clã.
Desde que me lembro, a música faz parte da minha vida. Porém, sempre encarei a música como algo mais secundário paralelo ao estudo escolar “mais tradicional”. Eu gosto muito de explorar diferentes formas de arte, porque acredito que cada uma influencia a outra. Apesar de tudo, considero que aquilo que faço mais recorrentemente é a música – a música acompanha-me sempre diariamente – o resto, vai aparecendo de forma mais esporádica e espontânea. Mas é sempre muito bom fazer coisas diferentes, para mim, mudar o foco, ajuda-me a estimular a criatividade - ALC
Antes da pandemia e do EP solo, ela cantava com Os Vertigem (ao lado de Inês Proença, Artur Morais e Aliu Baió ), projeto iniciado em 2017 e que marcou sua estreia como compositora. O grupo continua, embora tenha perdido força depois da pandemia.
Trabalhar em grupo é um processo entusiasmante - é muito bom debater ideias com outros músicos, ter ensaios em que se trabalha uma só música e se cria mil e umas versões diferentes para essa música, etc. Por outro lado, trabalhar a solo é mais solitário, tenho que tomar mais decisões sozinha, porém tem a vantagem de só termos de agradar a nós mesmos. Quando realizo um projeto de forma mais individual acabo por sentir que tenho uma liberdade maior. Perde-se, porém, a interação com outras pessoas que é sempre essencial - ALC
Agora, Ana está trabalhando em seu segundo EP, previsto para sair em abril de 2023. Serão seis faixas, incluindo as duas músicas apresentadas na SDB Sessions que não entraram no primeiro EP. É esperar para ouvir!
Discografia
EP Cheguei Tarde a Ontem (2020)