Tudo começou com Francisco Frutuoso (voz, guitarra e teclado). Ou melhor, nas canções que ele deixou guardadas por 8 anos. Enquanto se envolvia com outros projetos musicais, essas canções iam ficando cada vez mais de lado. Até que sua irmã, Luísa Levi (voz), encontrou as músicas e decidiu que aqueles eram versos para serem cantados, não engavetados.
Com o ultimato, fez-se banda. O universo particular de Francisco tornou-se então coletivo com o Eigreen. Juntaram-se aos irmãos o baixista Carlos Serra, o guitarrista João Ribeiro e o baterista Rui Pedro Martins. O primeiro disco do grupo de Coimbra, homônimo, saiu em maio de 2022.
As composições os levam para outros ambientes, verdejantes e oníricos talvez, levados pelo ritmo do dream rock, trip-hop e downtempo. Francisco é muito ligado à natureza, e suas músicas nos lembram que nela reside aquela dualidade que tanto intimida e assusta, mas que também liberta. Nas 8 faixas, as paisagens cruzam riffs quentes, teclas elegantes e um baixo apaziguante. A seguir, minha breve conversa com Francisco.
8 anos é um tempo considerável em que acontecem muitas mudanças, fora e dentro de cada um de nós também. Como foi voltar a essas canções? Elas ainda faziam sentido quando as lançou?
FF - Foi uma espécie de fecho de um capítulo. A verdade é que tê-las guardadas fez com que ficasse estagnado criativamente. As gravações acabaram por me livrar desta espécie de maldição que não me deixava seguir em frente, por isso acabou por ser quase catártico. As canções continuam a ter o sentido, nem que seja por retratarem algo que já fui e que já não sou. É sempre bom ter um diário onde é possível perceber o que mudou na minha vida para pior e/ou melhor.
O que mudou na hora de gravá-las?
FF- Quase todas sofreram pequenas alterações, algumas sugeridas pelos restantes membros do grupo quando as mostrei, outras por capricho pessoal de não estar satisfeito com um pormenor ou outro. As mais afetadas foram definitivamente a White Sharks, onde a melodia já estava há muito tempo a dar-me dores de cabeça, e a Landscape que apesar de já ter pensado no conceito ambiental à volta da guitarra, ainda não tinha posto mãos à obra. De resto, 90% ficou verdadeiro ao original.
Você toca em outros projetos musicais. Nunca pensou em lançar alguma dessas canções com as outras bandas?
FF - Certamente que havia espaço se o tivesse sugerido. Mas antes das outras bandas terem parado de tocar, as canções também não tinham sido pensadas em ser lançadas. O plano de as lançar surgiu precisamente do tempo morto e do tédio de não ter nada para lançar com as outras bandas naquele momento.
E como os demais integrantes juntaram-se a você e sua irmã?
FF - O único forasteiro era o Riveiro, que conheci pouco tempo antes de juntar a banda, mas rapidamente percebi que precisava de um esquerdino. O Rui e o Carlos já eram companheiros de longa data. Aprendemos a tocar juntos na escola Sítio de Sons, já tínhamos tido bandas os três e éramos muito bons amigos acima de tudo. Além disso, o Rui também fazia parte dos Flying Cages. Foi uma escolha cheia de indecisões, mas hoje em dia sei que foi a acertada.
Sempre se interessou por música, pela guitarra?
FF - Quando éramos miúdos, eu e a Luísa queríamos ser jogadores de basketball profissionais, o basket era a nossa vida. No entanto, lá em casa era costume ouvir-se os vinis dos nossos pais ou os CDs do meu irmão, que mais tarde começaram a acompanhar-nos para os treinos dentro de um mp3 de 32MB. Quando chegou o dia em que minha mãe me “emprestou” o professor dela de guitarra clássica, acabei por aproveitar uma primeira e uma segunda aula, e aos poucos a música foi roubando o protagonismo ao desporto da mesma forma que eu roubei o professor e a guitarra à minha mãe. O ambiente familiar foi uma grande influência, sem dúvida.
As letras nos levam para diferentes ideias sobre as canções. Podem falar sobre amor, relações do dia a dia, natureza… Qual o contexto dessas canções?
FF - Depende muito da canção. A relação com a natureza sempre teve um peso grande na minha vida e inconscientemente são temas recorrentes nas letras. Muitas vezes as canções começam com uma linha lógica e acabam por se fundir com outros conceitos que fazem sentido. Algumas relatam histórias de vida, outras amores, mas todas elas são passadas em locais verdes dentro do meu mundo.
Você sempre escreveu em inglês?
FF - Feliz ou infelizmente, dependendo da fase da vida, sim. O português ainda me é uma língua traiçoeira e demasiado difícil para escrever canções.
Como ficam as outras bandas da qual faz parte, o Flying Cages e Pinhata? Vai seguir nelas ou as atenções estarão todas voltadas para o Eigreen?
FF - Tocar com outras bandas só me faz crescer e ter mais vontade de aprender e experimentar. Neste momento estou a tocar com mais duas bandas: Peixinhos da Horta, criada pela minha irmã e pela Constança, ao qual mais tarde me juntei com o Pepas. Em Peixinhos toco percussão. Lançámos o primeiro álbum no mês passado, disponível em formato físico ou no bandcamp. Futuramente nas restantes plataformas digitais. E o Human Natures, criada pelo Riveiro, que toca em Eigreen. Lançámos no mês passado o primeiro single, The Now. Conta comigo, o Carlos (Eigreen), a Constança (Peixinhos da Horta), a Luísa (Eigreen, Peixinhos da Horta), a Maria (Mazela), o Zé (Masena) e um rapaz chamado Alexandre… Quanto a Flying e Pinhata, pode ser que haja novidades num futuro próximo.
O que muda do Francisco que vemos em Flying Cages para o Francisco do Eigreen?
FF - Em Flying Cages as vozes eram escritas pelo Zé, por isso o ponto de partida era completamente diferente. Enquanto que as músicas de Flying eram moldadas consoante a melodia das vozes do Zé, em Eigreen o processo é o contrário, as vozes costumam ser moldadas à volta do instrumental.
Você já devem ter respondido muito a essa pergunta, mas de onde vem o nome Eigreen?
Gosto de pensar que o significado permanece no segredo dos deuses :)
Se for a Coimbra…
Como nada melhor do que a dica de um local, Francisco dá a letra para quem for à sua cidade natal:
Se for uma visita turística ao centro histórico de Coimbra, fora os locais generalizados que se encontram à primeira vista na internet (zona à beira rio, baixa de Coimbra, Praça do Comércio, alta de Coimbra, Universidade de Coimbra, Jardim Botânico, Praça da República, etc), aconselho a comer um gelado na DOPPO Gelataria, a almoçar/jantar no Paço do Conde ou no Pátio da Inquisição, a tomar um café no Café-Concerto do Convento São Francisco, a ver um concerto no Salão Brazil, teatro no Teatro da Cerca, e exposições no CAPC.