É certo que o NOZ é um projeto que quer romper barreiras dentro do rock e do pop. No entanto, não deixa de ser também uma celebração do encontro -- ou melhor, do reencontro. Afinal, entre tantos projetos e colaborações musicais, é no NOZ que Bernardo Palmeirim, Gonçalo Castro e Ricardo Martins se juntam para criar e improvisar canções que vão da música instrumental à intimista, gerando batidas tribais que libertam o corpo e a hipnose da imaginação.
“Uma coisa mole, que parece um cérebro, dentro duma casca dura, à espera de ser liberta”. Essa bem que poderia ser a definição de noz mas, aqui, é como o trio NOZ relaciona a sua música ao nome do fruto seco que nasce a partir da nogueira, uma árvore originária na Europa e na Ásia e muito cultivada aqui em Portugal.
O projeto musical criado pelo músico Bernardo Palmeirim lá pelos idos de 2011 e 2012, em Barcelona, começou com a ideia de realizar colaborações com canções sobretudo acústicas, no estilo cantautor. Foi quando Palmeirim conheceu o baterista Ricardo Martins, ainda na cidade espanhola, e o encontro acabou mudando os planos iniciais.
Os dois iniciaram os ensaios e, no meio do caminho, Bernardo descobriu o Ableton Live, software muito usado por DJs e que tornou-se uma espécie de motor estético do que seria o NOZ: uma busca por um som híbrido — entre o elétrico e o digital — e por um ponto de equilíbrio entre a exploração e o desenho sônico, entre o experimentalismo, a improvisação e a composição da canção.
Depois de uma residência de dois meses com o artista visual peruano Álvaro Icaza, em 2015 o NOZ lançou o primeiro disco (NOZ², ouça aqui no Bandcamp). No ano seguinte, o baixista Gonçalo Castro juntou-se ao grupo. Agora estão no embalo do recém-lançado segundo disco, Powehi, o primeiro enquanto trio.
A música do NOZ funciona como um certo refúgio para a mente. Altas linhas de baixo, botões de videogame, loops, vozes sussurradas, solos de guitarra, uma calmaria... ruídos capazes de esvaziar a mente e te transportar para um outro momento alheio a tudo ao redor. As influências vão do rock psicodélico, passando pelo folk e blues, noise, pop alternativo e música experimental.
E sobre quais faixas seriam um bom cartão de visitas para apresentar o trio, eles sugerem os primeiros singles de seus dois discos, Rippin’ e She & He.
Do primeiro foi a Rippin’ porque embora fosse uma ‘canção’ (contrariamente a quase todas as outras nesse disco, tinha refrão), gozava de incursões experimentais improvisadas e uma forte dose de desenho sônico. Essa estética é basilar em NOZ. Este novo disco também é muito variado: várias paisagens e canções diferentes entre si. Escolhemos She & He como single porque tem uma frescura polirrítmica que a torna mais apelativa a um primeiro conhecer, para além de oferecer uma escrita brincalhona para quem preste atenção a letras -
NOZ
Pronto desde 2020, o disco Powehi saiu em fevereiro de 2022 devido à pandemia. Segundo o trio, o álbum estava “a descansar na prateleira, à espera de dias mais airados”.
Este disco é mais ‘canção’, mais composição do que o anterior (cujo intuito era assumidamente uma desconstrução do formato canção). Mas com este registro achamos que chegamos a um ponto mais equilibrado entre o experimentalismo e a composição. O processo criativo do Bernardo em NOZ parte muito da exploração sônica – daí cada canção ser criada numa busca processo muito livre e experimental, antes de começar a ser mais configurada e alicerçada com letras. O Bernardo compôs as canções e gravou as guitarras, voz, beats, loops e eletrônicas em casa, depois ensaiamos, exploramos variações em conjunto e gravamos bateria, baixo e cordas no estúdio do Bernardo Barata. Mas no estúdio também adicionámos umas boas maluquices, com pedais e maquinaria aqui e ali :) -
NOZ
Powehi tem sete faixas. Começa com Old Fools e seus sons mecânicos, industriais, seguida de She & He (primeiro single) com seus ares de Beach Boys. Há Stranger Creatures, segundo single do disco, que surge como um lamento de amor perdido, e assim o disco vai se desmembrando em diferentes atmosferas.
Os videoclipes dos dois singles foram feitos por Icaza (responsável pelos vídeos do primeiro disco e que já é quase um quarto elemento do NOZ).
Todas as letras são de Palmeirim, exceto a faixa As the Eye to the Brow, de autoria do músico Abdunazar Poyono (Uzbequistão). Aqui a música original ganha uma colagem final com música e letra feita pelo NOZ.
O intervalo de sete anos (cinco, na verdade) entre os dois discos é explicado pelo envolvimento dos músicos com outros projetos, fora e dentro da música. Bernardo fundou os nome comum com a irmã Madalena Palmeirim em 2008 — canções originais em português, só com instrumentos acústicos, e que conta ainda com a participação de Gonçalo — e Ricardo toca em outras bandas como Pop Dell'Arte, Jibóia, Chão Maior, Papaya, ALGUMACENA, Deriva, Fumo Ninja, Leonor Arnaut + Ricardo Martins e também solo. Ufa!
E porquê Powehi?
O nome veio de um artigo no jornal The Guardian sobre a primeira foto tirada a um buraco negro, em 2019. O astrofísico responsável batizou esse maciço negativo a partir de uma canção cosmogónica havaiana do século dezoito, que significa algo como a "ornamentada e inescrutável criação negra" ou "embelezada fonte negra de infindável criação". É uma só palavra que condensa isto tudo. É lindo e é misterioso, como a própria criação - NOZ
Discografia
NOZ2 (2015)
Powehi (2022)
Só pra lembrar…
Madalena Palmeirim, irmã de Bernardo, já passou pelo Indie Lusitano com um de seus projetos musicais, as Rainhas do Autoengano. Para quem não leu nem ouviu, a gente compartilha de novo: