A portuguesa Joana Silva, mais conhecida como Jüra, já está acostumada aos palcos. Aos 23 anos, trabalhou como bailarina , acrobata, atriz (e também em dublagens de filmes de animação). No entanto, subir aos palcos terá outro gosto a partir de agora. É uma nova fase para artista que vem apresentando desde 2020 suas primeiras composições, reunidas agora no recém-lançado EP Jüradamor.
A sensação de estar no palco como cantora, ela só descobriria de fato dias depois da nossa conversa. Apresentou seu primeiro show no último dia 19, no estúdio da Time Out aqui em Lisboa, dias depois da nossa conversa.
Vai ser sem dúvida uma sensação diferente. Por mais palcos que já tenha pisado em diversos projetos, não há nada mais especial que apresentar agora um projeto que é meu, tão meu. Eu. Só a música me traduz totalmente. É uma consequência da minha existência por si só. Uma necessidade. Algo que acontece sem ser premeditado. A linguagem da minha alma - Jüra
Formada em dança pela Academia de Dança de Alcobaça, Joana se mudou para Lisboa onde passou pela escola de circo Chapitô. Foi lá pelos idos de 2019 que ela começou a tratar a sua música com mais seriedade.
Eu sempre fui muito ligada à música. E todas as áreas em que passei vivem muito da música também. A dança, o circo... Nunca senti a música como algo que quisesse estudar ou aprender. Sempre foi um lugar especial pra mim, foi a liberdade que me fascinou... De criar melodias, cantarolar sem regras - Jüra
Essa nova estrada começou com dois singles: És o amor e somozumnãodois, lançadas em abril de 2020 e em fevereiro de 2021, respectivamente. A estreia como cantora e compositora já aconteceu com ela assinando como Jüra.
O nome veio como quase tudo na minha vida, dum caminho. O meu nome é Joana, chamam-me de Juka desde os meus 11 anos e de Juka nasceu Jüra, enquanto rabiscava num papel em 2016. E não nasceu pra ser nome artístico, simplesmente o descobri, e depois fez todo o sentido usá-lo. Porque é o que é tudo isto pra mim, uma jura, uma promessa, de verdade - Jüra
És o amor traz um pouco do tom emocional do fado, mas com beats, e fala sobre um tema constante nas composições de Jüra: o amor. Nesse caso, uma homenagem à avó.
Tal como o amor e a dor, a vida e a morte sempre foram algo que me inquietaram. Esta coisa de termos que perder quem amamos tanto e a dor que provoca o amor... Escrevi esta canção para a minha avó numa noite em que o medo de a perder, o desejo de que fosse eterna, tomaram conta de mim. É uma declaração de amor que tive que eternizar - Jüra
Somozumnãodois já aponta mais para a sonoridade que marcaria o seu EP. Nessa música, ela faz referência à mais célebre história de amor do imaginário português no verso "vamos ser como Pedro e Inês", numa alusão aos amores que repousam no Mosteiro de Alcobaça, sua terra natal (se você não conhece a história, leia aqui).
O EP Jüradamor, lançado em maio, traz seis faixas com mais influências de R&B, hip hop e bases suaves de boom bap — termo que faz referência à interação entre o bumbo (kick) e caixa (snare), herança da música soul e funk dos anos 1970 quando a batida da bateria era bem destacada e se criava o rap a partir do break da música. Um disco pop, com o choro suave da guitarra a embalar os versos sobre amor. Quem assina a produção é FreeSoulBeats, beatmaker e parceiro de Joana.
Comecei a fazer canções em beats. Não cresci a ouvir um determinado estilo, sempre ouvi de tudo. Por isso não foi uma escolha propositada. Foi por acaso, mas é em beats que gosto de compor, de morar - Jüra
Ela diz que não poderia escrever sobre outro tema, já que essas são emoções que ela sempre sentiu com “muita profundidade”. Nas suas palavras, o EP é como “uma viagem do que foi, e é, sentir na minha pele”.
O amor e a dor, pra mim, sempre viveram de mãos dadas. E é uma inquietação isto de viver intensamente. Entre os dois. Mas sempre foi o que mais fascinou na vida. O que sentimos. O amor. A dor do amor - Jüra
A bagagem das outras formações artísticas também a ajudaram a construir a estética do seu trabalho como cantora e a ideia por trás dos videoclipes.
Sinto que a vida me tem vindo a preparar para o que estou a viver. Gosto muito de trabalhar em conjunto, mas ter a minha visão como ponto de partida porque todo este caminho nas outras vertentes me trouxe um pensamento artístico que abrange as várias áreas. O que me vai permitir tornar cada vez mais o meu pequeno mundo interior tanto audível, como visível - Jüra
Discografia
EP Jüradamor (2022)
Se for ao Seixal…
Joana é natural de Alcobaça, viveu em Lisboa, mas hoje seu refúgio é no Seixal, cidade que pertence ao distrito de Setúbal. No calendário, é conhecida pelo Festival Internacional Seixal Jazz e pelo Festival de Teatro do Seixal, além de inúmeras atrações perto da natureza.
A dica da cantora é explorar a baía da cidade. Há inúmeros restaurantes ao redor, caminhando você pode conhecer núcleos urbanos antigos, visitar o Ecomuseu, além de fazer um passeio a bordo das tradicionais embarcações locais: o bote de fragata Baía do Seixal ou no varino Amoroso (que em 2021 completou 100 anos).
O Ecomuseu foi construído no Moinho de Maré de Corroios. Este moinho foi construído em 1403, por iniciativa de Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável. Em 1755, o forte terremoto que devastou Lisboa, causou grandes estragos no moinho, que precisou ser reconstruído.
O Parque Urbano do Seixal, localizado no Alto Dona Ana, é outro ponto que vale a pena visitar. De lá, você terá uma vista privilegiada para a Baía do Seixal e para Lisboa.
Outra dica: no site da Câmara do Seixal há um calendário de passeios gratuitos, onde são explorados diversos locais da cidade. Confira a agenda aqui.